Clarice Lispector em ordem cronológica - ROMANCES: Contexto da época.
Perto do coração selvagem é o primeiro romance da Clarice, foi lançado em 1943 quando ela tinha apenas 23 anos. O romance foi muito bem aceito pela crítica. Antônio Cândido disse “um romance que faltava”, o poeta Jorge de Lima em um artigo publicado em 1944 arrematou “deslocou o centro de gravitação em que girava o romance brasileiro”. Foi o suficiente pra deixar sua marca na literatura moderna.
O mundo estava em conflito, iniciava-se a segunda fase da Segunda Guerra Mundial, agora todos os continentes estavam envolvidos no confronto. No Brasil, fundaram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar como parte das Forças Aliadas na Itália.

E Clarice? Além de lançar Perto do coração selvagem, Clarice estava concluindo o curso de Direito na Faculdade de Direito na Universidade do Brasil (atual UFRJ). Também tinha se casado recentemente com diplomata Maury Gurgel Valente.
Em 1944, Perto do coração selvagem recebeu o prêmio de Melhor livro de estreia pela Fundação Graça Aranha, também foi eleito pela Folha Carioca como o melhor livro de 1943.
Bom, mas do que se trata?
Vou deixar a sinopse aqui:
O surgimento de Perto do coração selvagem, em 1943, causou grande impacto no cenário literário brasileiro, proporcionando à autora aclamação imediata da crítica e de seus colegas escritores.
Houve quem encontrasse no livro a influência de Virginia Woolf, ao passo que outros apostavam em Joyce, seguindo a falsa pista da epígrafe da qual Clarice pinçou seu título: "Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do coração selvagem da vida." Ambos os grupos estavam errados, apesar do uso do fluxo de consciência pela escritora estreante a justificar tais correlações. Ocorre, no entanto, que esse havia sido um achado natural e espontâneo para Clarice Lispector, que admitiu como única influência neste caso
O lobo da estepe, de Hermann Hesse. Não em termos estilísticos tampouco por se identificar com o caráter do protagonista, mas sim por compartilhar com ele e, sobretudo, com Hesse, o desejo imperioso de romper todas as barreiras e ultrapassar todos os limites na busca da própria verdade interior. Anseio personificado pela personagem central, Joana, com uma expressão que se tornou célebre: "Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome."
Íntima e universal, destemida e secreta, Joana "sentia o mundo palpitar docemente em seu peito, doía-lhe o corpo como se nele suportasse a feminilidade de todas as mulheres" e ela destoava do sistema patriarcal em que se encontrava inserida da mesma forma que Clarice se distanciava da literatura de seu tempo, ainda dominada pelo regionalismo e o realismo. Ambas, autora e protagonista, eram forças divergentes, porém não dissonantes, já que introduziam uma nova musicalidade, uma harmonia própria, poética e triunfal, na aspereza circundante, enquanto buscavam "o centro luminoso das coisas" sem hesitar em "mergulhar em águas desconhecidas", deixando o silêncio e partindo para a luta. Deste embate à beira do íntimo abismo, Joana torna-se uma mulher completa e Clarice, uma escritora singular e inimitável.
Na próxima newsletter mandarei um pequeno cronograma de leitura.
Até a próxima!
P.S.: Caso você queira o pdf ou epub é só responder a este e-mail.
Com carinho,
Dani.